Consulta do Viajante

Doi esta corda vibrante
A corda que o barco prende
à fria argola do cais
Se uma onda que a levante
vem logo outra que a distende.
Não tem descanso jamais.

António Gedeão, in "Vidro Côncavo"

E numa bela manhã de sol lá me dirigi eu ao Centro de Saúde dos Guindais para ter uma "Consulta do Viajante". O trânsito estava infernal e demorei quase 30m a fazer um percurso de 5km dentro da cidade do Porto - que stress. Como já não tinha paciência para andar à procura de estacionamento deixei o carro no parque dos guindais - o que vale é que lá a tarifa até nem é muito cara: 0,60€ por hora.

Como não sabia onde ficava o Centro de Saúde pergunto a um transeunte que por ali passava, o qual me indicou um edifício a poucos metros. Chego lá e leio "Centro de Saúde da Batalha".... hum.... suspeito.... Entrei e dirigi-me à recepção onde me informaram que não era lá e sim numa espécie de beco mesmo ao lado... E sim, no beco ao lado depois de passar por um grupo de arrumadores (provavelmente alguns dos que voltaram às ruas depois do fim do programa Porto Feliz) lá encontrei o Centro de Saúde dos Guindais.


Dirigi-me à recepção e pedi uma consulta do viajante. A funcionária perguntou se poderia ser noutro dia, mas eu lá lhe expliquei que era urgente pois em menos de 1 mês poderia viajar para Angola. Ela foi muito atenciosa e inscreveu-me numa das vagas-extra da manhã que estavam reservadas para os casos mais urgentes (como o meu, entenda-se).

Depois de esperar algum tempo (cerca de uma hora, mas isso passa rapidamente quando se está a ouvir música) chegou à minha vez. Entrei uma sala "simpática" onde me aguardava uma médica sorridente acompanhada por duas jovens - também sorridentes - que ela me explicou serem estagiárias e estarem somente a assistir. Lá expliquei eu para onde ia e o que precisava e ela instruiu-me para as precauções que deveria ter em Angola, os medicamentos que deveria levar comigo, e ainda quais as vacinas que deveria tomar. Quanto a essas foi uma lista nada simpática: Febre Tifóide, Febre Amarela, Poliomielite, Meningite e Hepatite A. Só não receitou Hepatite B porque eu já a tinha... mas também é certo que algumas daquelas vacinas eram reforços. Também receitou uma vacina oral para a Cólera (a.k.a. diarreia do viajante).

Só a vacina da Hepatite A não poderia ser tomada ali pois não era comparticipada pelo SNS, mas tomei todas as outras - duas em cada braço (escusado será dizer que ao fim do dia os meus braços já pareciam os do Hércules). Mas até tomar as vacinas ainda esperei cerca de 1h30m... eu e mais alguns utentes da clínica... é que a vacina para a Meningite tinha esgotado "alguns utentes atrás" e estavam à espera que chegasse uma nova remessa do armazém.

Quando finalmente regressei ao carro, ironia das ironias, verifiquei que iria pagar mais pelo parque que pela consulta: 2,25€ pela consulta e taxas moderadoras (das vacinas), e 2.35€ do parque (quase 4h de estacionamento).

Fui almoçar ao Parque Nascente onde aproveitei para ler o mail (eles lá têm Internet à borlix pela TVTEL - perdoem a publicidade). Depois fui à DGV para tirar a Licença Internacional de Condução, onde me informaram que não era lá e sim no ACP... E lá fui eu ao ACP que era mesmo ao lado das instalações da Egor onde fizera as provas de admissão ao programa Contacto.

O edifício do ACP para além de estar em obras e ter poucas condições também tinha poucos funcionários em serviço.... Tinha 1 funcionário a atender uma fila de para aí 20 pessoas. A explicação dada foi que naquele dia estavam a receber formação... O tempo foi passando e finalmente fui atendido (entretanto muitas das pessoas haviam desistido e ido embora), pelo meio ainda tive tempo de ir lanchar a uma pastelaria próxima. Disseram-me que daí a 2 dias receberia em casa o documento.

E foi assim o meu dia. Na quarta-feira começa o meu estágio na EFACEC e já tenho quase tudo pronto. Agora é só desfrutar.

Renovando o PC

Sei um ninho.
E o ninho tem um ovo.
E o ovo, redondinho,
Tem lá dentro um passarinho
Novo.

Miguel Torga, in "Segredo"

Já está! O horrível autocolante que cobria a tampa do portátil já foi removido. Para trás ficaram alguns minutos que requereram uma extrema paciência para descolar cuidadosamente o dito, e ainda remover os restos de papel e cola com água e álcool. Mas valeu a pena - já tem muito melhor aspecto.

Mas também o sistema operativo teve de ser mudado - o portátil vinha instalado com o WindowsXP, e mal configurado. Como para este modelo a Toshiba apenas dava suporte ao Windows Vista tomei a opção de usar o DVD de recuperação do Vista para repor o PC na "configuração de fábrica". Claro que antes ainda fiz um backup de todo o disco para que pudesse reverter o processo...

Devo dizer que com o Windows Vista tudo já estava devidamente configurado, e ainda pude apreciar algumas das novas funcionalidades, mas a verdade é que notei um desempenho reduzido nomeadamente a copiar ficheiro pela rede "sem fios". A nível visual o novo Windows é muito apelativo. Para o uso que lhe conto dar em Angola (email, internet, etc) o desempenho não é algo muito importante pelo que para já estou satisfeito.

O Dia do Julgamento

Mestre da Paz, ergue teu gládio ungido,
Excalibur do Fim, em jeito tal
Que sua Luz ao mundo dividido
Revele o Santo Gral!

Fernando Pessoa, in "Mensagem"

Eis que chegou o dia de conhecer o meu destino. Destino, entenda-se, local do estágio, e não aquele destino tão português e tão trágico a que chamamos de fado - se bem que eu prefiro pensar que o destino do Homem é o conhecimento.

Mais uma vez trabalho de equipa: tínhamos 10 provas para superar, sendo que cada prova superada pela equipa nos fornecia letras para formar o nome das empresas acolhedoras. Se não éramos a melhor equipa, éramos sem dúvida a mais divertida e versátil.

As provas foram sendo superadas com relativa facilidade, mas o mais importante é que nos íamos divertindo imenso enquanto formávamos os nomes dos tão ansiados destinos. O meu foi "Efac Ec"! Era claro que o meu destino era a EFACEC, mas aquele espaço entre "Efac" e "Ec" fez-me ter pensamentos nada abonatórios para com a capacidade intelectual dos autores dos jogos, até porque os meus colegas reportaram erros ainda mais graves, tipo várias letras para a mesma posição... e mais não digo.

Confesso que até fiquei contente em ir para a EFACEC - afinal a EFACEC tem sede a +-10km de minha casa...

Depois de um almoço à base de croquetes, bolinhos e rissóis veio a prova final, onde ficamos a saber para que países íamos. Enquanto esperava que o capitão de equipa realizasse a prova e trouxesse a lista dos sonhos sentia a ansiedade a aumentar vertiginosamente...

Finalmente a revelação: vou para a EFACEC em ANGOLA!

(...)

Confesso que senti um grande desapontamento por ir para Angola. Tinha-me preparado para ir para um país em que tivesse de falar inglês, ou que pelo menos não tivesse de falar português (ainda por cima... mau português). Também as informações que havia recolhido durante a semana acerca de Angola não eram muito animadoras: dificuldade em alugar casa, custo de vida elevado, serviços de saúde limitados, e valor do estágio para o currículo muito baixo.

Mas no fundo, estava contente mesmo assim. Estagiar na EFACEC será certamente muito bom, e se ir para Angola não é um privilégio é pelo menos uma oportunidade.

Mais 6 colegas foram seleccionados para ir para Angola. Aparentemente todos tinham sentimentos semelhantes. Estou certo de que no final do estágio iremos sentir que tudo terá valido a pena.

A Alvorada

E foi assim que tudo começou. A visão da Alvorada a partir da janela do meu "quarto" deixava no ar um aroma especial. Uma simples lufada daquele ar fresco inspirava mistério e ansiedade... Iria esta semana corresponder às minhas expectativas...? Não sabia a resposta - mas esse era o meu intento...

Ouvia-se o canto longínquo dos pássaros... Mas eu já só ouvia em mim o desenrolar dos meus propósitos - era o som da inevitabilidade...